Convivência
Relato da minha namorada:
Olá! Meu nome é Mariana, sou ouvinte e namorada do Guilherme, criador do "Oi? Repete, por favor". Sempre que falo com alguém que namoro uma pessoa surda, a surpresa e as perguntas são garantidas. O post de hoje vai tratar sobre as principais dúvidas e adaptações que faço para que possamos nos comunicar da melhor forma possível.
Acervo pessoal |
A primeira pergunta que sempre me fazem é: "você já sabia sobre a surdez dele quando se conheceram?". E a resposta é: "não". Quando nos conhecemos, há uns quatro anos atrás, eu nem ao menos suspeitei que ele era deficiente auditivo. Normalmente, a fala de nascidos surdos é um tanto embolada, já que é difícil reproduzir sons que não são bem compreendidos; porém, o Guilherme fez anos de tratamento com uma fonoaudióloga que, sinceramente, fez um excelente trabalho. Eu achava que ele tinha uma língua presa, ou um sotaque diferente, mas nem cogitei a surdez. Só fui descobrir a respeito disso em uma ocasião em que estávamos na piscina, e fui alertada a não brincar de jogá-lo na água, pois poderia estragar o aparelho auditivo. Confesso que foi uma surpresa, já que, como disse, ele possui uma ótima dicção.
Entendi melhor a respeito das dificuldades que ele enfrenta após o início do namoro. Guilherme alia o som que escuta pelo implante à leitura labial que desenvolveu desde criança. Apenas o som não basta para a compreensão total do assunto. Então, começamos a pensar em algumas adaptações para melhorar a qualidade do que ele escuta.
Procuro conversar próxima e de frente para ele. Isso porque o som é melhor compreendido em distâncias menores, e a leitura labial pode ser associada neste caso. Quando não é possível, como nas situações em que estamos andando pelas ruas, me posiciono à sua direita, pois o implante auditivo dele fica no ouvido direito e, pela proximidade, a compreensão é melhor. Evito falar com ele de costas ou quando estou em outros ambientes. Busco também melhorar minha dicção, projetando a voz (o famoso "falar para fora"). Não é necessário falar mais alto para ele compreender, e sim falar de forma clara e articulada, sem embaraços.
A maior dificuldade que ele me relata, porém, é durante as conversas em grupo. Segundo ele, é complicado conseguir compreender todas as falas quando várias pessoas conversam ao mesmo tempo. Então, para facilitar a comunicação ao menos dentro de casa, nós conversamos com a família e estamos exercitando a fala de uma pessoa por vez, e com todos dispostos em círculo. Confesso que, a princípio, é um pouco complicado e, como é automático, falamos todos juntos. Mas estamos nos policiando sobre a questão e dando abertura para que, em qualquer frase mal compreendida, ele possa pedir para repetir quantas vezes quiser. É um direito do surdo poder conviver e compreender tudo à sua volta, e é um dever do ouvinte promover a acessibilidade e as adaptações necessárias para isso.
Então, a dica que dou é: escute. Pergunte aos deficientes auditivos o que pode ser feito para que eles entendam melhor e ouça o que têm a dizer. O diálogo e a empatia é sempre o melhor caminho.
Obrigada por ler até aqui, e até a próxima!
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